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Celulite tem cura? Esclareça essa e outras dúvidas sobre o problema
Publicado por Sorrir de Novo em Dermatologia | 0 comentários
Dermatologista responde questões sobre o problema, que costuma acometer mais as mulheres do que os homens.
Pelo menos oito em cada dez mulheres têm um problema estético chamado tecnicamente de lipodistrofia ginóide — que causa muito incômodo. Algumas estimativas apontam que 95% das mulheres apresentam essa alteração.
— A celulite é, na verdade, uma inflamação do tecido subcutâneo ou tecido adiposo, onde essas células gordurosas sofrem processo de dismorfia, alteração da boa morfologia, apresentando excesso de gordura no seu interior e deformidade da sua parede. Além disso, um quadro de endurecimento dessas estruturas, mostrando irregularidades que acabam se projetando na superfície da pele e levando à formação de um relevo heterogêneo e uma pele cheia de reentrâncias e saliências, depressões e ondulações — explica a dermatologista Claudia Marçal, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
De acordo com ela, a celulite não é considerada uma doença, mesmo sendo uma alteração estética importante, que incomoda muito o público feminino.
A solução do problema só é possível com um tratamento multifatorial, explica a dermatologista:
— Porque, na verdade, na causa da celulite existe um processo fisiopatológico multifatorial.
Para entender mais sobre isso, Claudia esclarece ponto a ponto algumas das dúvidas mais comuns sobre o tema. Confira!
Por que quase todas as mulheres têm? Quais são as causas?
— Tem um fator preponderante na incidência do sexo feminino por conta do fator estrogênico, já que o hormônio estrogênio está diretamente envolvido no processo dessa inflamação. Está relacionada a vários fatores, entre eles: o sobrepeso, a gordura — mas não necessariamente, já que temos também muitas mulheres magras com celulite e isso ocorre porque há um desequilíbrio entre a taxa de gordura e a taxa muscular.
Muitas vezes, nós temos pessoas magras, mas com um índice de massa corpórea com baixo peso e com alta taxa de gordura. Ou seja, pessoas que têm muito mais gordura que fibras musculares têm tendência a apresentar a celulite.
Depende também de fatores genéticos: existe uma predisposição familiar e pessoal, uma tendência natural ao edema (ou a congestão com dificuldade do retorno da linfa), à formação de varizes, o que leva a formação de um processo inflamatório importante.
Além disso, as mulheres brancas caucasianas têm mais celulites que as mulheres asiáticas e negras. A celulite tem causas também em problemas microcirculatórios. Nós sabemos que 70% das mulheres que apresentam celulite podem apresentar também alterações vasculares principalmente nos membros inferiores.
Há fatores de gatilho?
— Os fatores de piora ou gatilho são: má alimentação, sedentarismo (a falta de atividade física), não funcionamento intestinal, baixa ingestão de líquidos, abuso no consumo de industrializados, sal, alimentos ricos em sódio, açúcar, gorduras, metabolismo lento, uso de pílula anticoncepcional, tratamentos com hormônios a base de estrogênio, alterações da tireoide (hipotireoidismo), excesso de peso ou pessoas com peso normal e com altas taxas de gordura (índice de massa corpóreo em desequilíbrio).
A celulite está relacionada também a fatores de alteração hormonal: gravidez, pré-menopausa, stress com aumento do cortisol e o cigarro, todos piorando o quadro de celulite.
Quais são as áreas mais afetadas?
— As áreas mais acometidas pela celulite são aquelas que têm um padrão estrogênico de receptor de ligação estrogênico, ou seja, fazem parte por isso de um quadro relacionado à mulher: as regiões do quadril, dos glúteos, das coxas principalmente a face interna da coxa e a região posterior, abdômen inferior a braços.
Quais as classificações?
— A celulite pode começar com um grau I, leve e assintomático, e ir evoluindo gradativamente de acordo com o não-tratamento. Hoje, nós avaliamos de uma maneira menos ortodoxa do que a classificação anterior (de grau I, II, III e IV). Temos uma nova nomenclatura mais moderna, que analisa além da nomenclatura anterior (que confere pontos a esses valores atribuídos): conseguimos olhar melhor e definir o melhor tratamento baseado no novo código, que se chama Celulite Severity Scale.
A observação clínica do médico especialista é importante nessa classificação. Essa nova classificação, feita pelo grupo da dermatologista Doris Hexel no Brasil e já apresentado internacionalmente, é feita por meio da soma de pontos atribuídos à quantidade e profundidade das depressões, presença e característica dos nódulos (dolorosos, palpáveis, visíveis) na pele, flacidez tecidual e classificação anterior (grau I, II, III e IV), emitindo um score (pontuação) que define a Lipodistrofia Ginóide em leve, moderada e severa. A pontuação vai de 0 a 3 e tem um score final.
Tem cura?
— Não podemos dizer que a celulite tem cura. Ela tem controle e melhora, que dependem muito da qualidade de vida desse paciente, do momento que ele está vivendo, a qualidade das horas de sono, a quantidade de cortisol que está sendo liberada na corrente sanguínea.
Temos que orientar esse paciente a estar em constante vigília com sua alimentação (retirando excesso de sódio, sal e açúcar), com a prática de exercícios físicos, a ingestão de água, de pelo menos 1,5 a 2 litros por dia, para ajudar na liberação dessas toxinas que formamos e temos muita dificuldade de liberar e que trazem mais inflamação ao tecido gorduroso.
Celulite com gordura é mais difícil de tratar?
— Com certeza é muito mais difícil de tratar a celulite quando está conjuntamente relacionada à gordura, porque o processo todo acontece no tecido adiposo. Só o fato de a paciente emagrecer garantirá uma melhora no quadro da celulite.
Mas, para tratar a celulite, é preciso que haja uma mudança na qualidade de vida desse paciente. Além das mudanças já citadas, a drenagem linfática e modeladora deve ter seu lugar semanal, principalmente na região dos glúteos, culotes, flancos e abdômen inferior.
Além disso, se é fumante, alertamos sobre a importância de que ele pare de fumar, porque o tabagismo é um fator agravante, é um gatilho importante. A bebida alcoólica também piora bastante porque, além das calorias vazias, é um quadro que predispõe a retenção hídrica do nosso organismo.
Quais os tratamentos?
— Vários, com tecnologias bastante avançadas como, além da drenagem linfática, o uso da Endermologia, da Radiofrequência, dos lasers de baixa intensidade, em que se usa ondas acústicas, uma série de tecnologias com associação com a melhora da qualidade de vida do paciente que juntas vão trazer uma remodelação corporal.
Temos que adotar algumas medidas terapêuticas dentro do consultório, dependendo do grau da celulite, da idade e do biótipo dessa paciente.
Soluções caseiras funcionam?
— Ainda em relação à parte de tratamento, as máscaras de esfoliação com café não procedem em termos de estudos científicos, e em termos de sedimentação clínica não temos um meio de melhora do processo inflamatório que faz parte da terceira camada da pele com aplicação tópica de produtos na primeira camada.
Então, o que nós sabemos é que a cafeína tem uma ação lipolítica, com um processo de lipólise e destruição do adipócito com a transformação dessa gordura em glicerol e triglicérides que vai ser realmente ser eliminado do nosso organismo, quando ingerida sob orientação médica.
Cremes: o que devem ter?
— Conjuntamente podemos associar a cremes com retinol, com castanha da índia, com chá verde, mas na forma de produtos que tenham concentrações de 3% a 15% e que consigam penetrar na superfície da pele e chegar até a junção dermo-epidérmica, melhorando o quadro de textura da pele, de irregularidade da casca de laranja e o processo inflamatório superficial.
Mas somente o uso desses cremes não conseguem resolver ou curar a celulite. É mais um coadjuvante e uma maneira de manutenção, prevenção e controle, mas não um método que vá trazer um processo de cura ou de resultado que muitas vezes é esperado, mas não é obtido porque estamos falando de um quadro de celulite mais severo.
A cafeína é uma substância muito utilizada, presente em vários cremes industriais, em concentrações diferenciadas, muitas vezes em associações que aumentam o processo de melhora do retorno venoso, mas somente o uso do creme não tem o resultado definitivo de cura da celulite.
Fonte: Diário Gaucho
Tags: Dermatologia